Por Douglas Barraqui
“Abençoado por Deus e bonito por natureza”. Essa é uma típica frase que nós brasileiro gostamos de dizer quando fazemos referência às belezas de nossa terra, belezas que fazem do Brasil um objeto singular para a história ambiental. José Augusto Drummond, um dos nossos maiores nomes da história ambiental, diz que esta disciplina – para nós brasileiros – é estrangeira, por ser, em até certo grau, desconhecida por muitos. Eu digo que ela se faz timidamente e que, em “terras tupiniquins”, há excelentes trabalhos nesse campo.
É notório que os cientistas sociais latinos americanos, ao trabalharem história ambiental, demonstram maior apego as temáticas sociais e o Brasil não destoa dessa realidade. Mesmo possuindo uma gama de ecossistemas, biomas, processos ecológicos e consequente inúmeras paisagens naturais – o que torna o Brasil rico em interações entre a sociedade humana e o meio natural –, os historiadores de língua inglesa sabem muito mais sobre a natureza biofísica do que os cientistas sociais brasileiros.
Falta aos cientistas sociais brasileiros maior dialogo com as ciências naturais, com os próprios movimentos ambientalistas, a fim de que assistam de perto a realidade e, é claro, faltam incentivos para a investigação ambiental do próprio governo.
Todavia, nos últimos dez anos, a história ambiental made in Brazil rendeu bons frutos, demonstrando um destacado desenvolvimento. Isso se deve, em grande parte, à qualidade dos trabalhos produzidos e às nossas universidades que possuem um papel ímpar na produção científica do país. Resumindo, embora não esteja consolidada, a história ambiental está em solo fértil e está, certamente, em crescimento. Isso ficou demonstrado no primeiro encontro acadêmico de história ambiental do Brasil, que ocorreu em maio de 2008, em Belo Horizonte, organizado por Regina Horta Duarte, uma lider da disciplina no Brasil. Os avanços da disciplina ambiental também foram demonstrados no IV Simpósio da Sociedade Latino-Americana e Caribenha de História Ambiental (SOLCHA), realizado em maio de 2009 na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Acho prudente destacar que, embora pesquisadores brasileiros tenham feito importantes contribuições para uma história ambiental do Brasil, eu ainda não encontrei um profissional que se dissesse historiador ambiental. São, em grande parte, trabalhos paralelos.
Abaixo apresento um roteiro introdutório de produções de historiadores brasileiros que passam pelo viés da história ambiental:
ARRUDA, Gilmar (Orgs.). A natureza dos rios. Ed. EFPR 2009, p. 265.
ARRUDA, Gilmar. Cidades e Sertões. Bauru, EDUSC, 2000.
ARRUDA, Gilmar, et al (Orgs.). Natureza na América Latina – apropriações e representações. Londrina. Editora da UEL, 2001.
BERTRAN, Paulo. História da Terra e do Homem no Planalto Central. Revista ampliada, Brasília: verano, 2000.
BUENO, Eduardo et alli. Pau-brasil. São Paulo, Axis Mundi, 2002.
CASCUDO, Luís de Câmara. Civilização e Cultura – pesquisas e notas de etnografia geral. São Paulo, Global, 2004.
CASTRO, Carlos Ferreira de Abreu. Gestão Florestal no Brasil Colônia. (Tese de Doutorado em Desenvolvimento Sustentável Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, 2002).
CASTRO, Maria Inês Malta. Natureza e Sociedade em Mato Grosso, 1850 -1930. (Tese de Doutorado, Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília, fevereiro 2001).
COSTA, Kelerson Semerene. Homens e Natureza na Amazônia Brasileira: dimensões. (Tese de Doutorado (História), Universidade de Brasília. Brasília).
COSTA, M. Panorama de um País inexistente - O Pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo Estação Liberdade: Kosmos, 1999.
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COUTO, Jorge. A Construção do Brasil - ameríndios, portugueses e africanos, do inicio do povoamento a finais de Quinhentos. Lisboa, Cosmos, 1998.
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DRUMMOND, José augusto. Ciência Social Ambiental – notas sobre uma abordagem necessariamente eclética, em Rival Carvalho Rolim et al (Orgs.). História Espaço e Meio Ambiente – coletânea – VI Encontro Regional de História Ambiental da ANPUH. Maringá, ANPUH, PR, 2000.
DRUMMOND, José augusto. Devastação e preservação ambiental no Rio de Janeiro. Niterói, EDUFF, 1997.
DRUMMOND, José Augusto. O sistema brasileiro de parques nacionais: análise dos resultados de uma política ambiental. Niterói, Rio de Janeiro: EDUFF, 1997.
DRUMMOND, José Augusto. Por que estudar a história ambiental do Brasil? – ensaio temático. Varia História, nº 26 janeiro, 2002
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Caro Douglas,
ResponderExcluirGostaria de te dar os parabéns pela iniciativa do blog. Encontrei aqui várias indicações que não conhecia. Um grande abraço. Giovanni Mannarino.