sábado, 24 de abril de 2010

Imagem do Brasil na Europa do século XVI


Por Douglas Barraqui

O novo mundo estimulou poderosamente o imaginário do europeu. As narrativas dos primeiros viajantes, impressas rapidamente, serviram de base para compilação do que viria a ser a nova terra.

No caso do Brasil, embora a carta de Caminha tenha ficado desconhecida, outros documentos como a “carta do piloto anônimo”, a carta Mundus novus, de Américo Vespúcio e a descrição do diplomata veneziano Giovanni Cretico, de 1507. Esses relatos eram de uma terra idílica, de clima ameno, habitantes inocentes e pacíficos que desconheciam a propriedade, a moeda e os governos; reinava a grande liberdade social e moral, com mulheres lindas e luxuriosas, que tornavam o Brasil, segundo Américo Vespúcio, “mais conveniente aos epicuristas que aos estóicos”. Na segunda metade do século foram publicadas obras mais densas e descritivas a respeito de acidentes geográficos, a fauna, a flora e os habitantes, fruto de um aprimoramento do conhecimento da nova terra, ao menos do litoral. Todas essas obras, apesar do largo analfabetismo na Europa, fizeram muito sucesso na Europa.

Os nativos que causavam grande sensação na Europa. Muitos foram para lá arremetidos como escravos pelos portugueses, prática que foi inclusive condenada pela bula veritas ipsa de 1537, mas só proibida por don Sebastião em 1570.

Ao longo do século XVI aprimorou-se o conhecimento cartográfico sobre o Brasil com maior precisão nas descrições dos acidentes geográficos e nas dimensões territoriais e suas distancias. A ocupação não era continua com enormes vazios demográficos, geralmente causados por conflitos com os indígenas. A população dedicava-se ao extrativismo vegetal do pau-brasil, a agricultura de subsistência como o plantio de milho, mandioca, trigo, arroz e hortaliças; e a agricultura de exportação, como a açúcar e a pecuária. Gândavo e outros autores dão conta de que os habitantes das capitanias alimentavam-se e vestiam-se melhor que os de Portugal.

A sociedade demonstrava-se estratificada. Grandes proprietários – senhores de engenho, fazendeiros de cana e pecuaristas – e altos funcionários do Estado. Existiam ainda comerciantes, funcionários médios e proprietários com menor número de escravos e o restante da população compreendidos como homens livres e pobres – artesões, pequenos funcionários, vaqueiros, lavradores – e os escravos, negros e indígenas apareciam na base dessa sociedade. Rio de Janeiro era um importante ponto de intercâmbio, servido de eixo econômico, assim o Rio se destacou como centro comercial por excelência.

A autoridade do Governo Geral e de seus subordinados se estendia a todo o Brasil, mas a dificuldade de comunicação dava, na prática, grande margem a autonomia aos governantes locais. A vida rural era predominante e a própria delimitação cidade campo era muito tênue, pois, no geral poucos metros separavam o núcleo urbano das fazendas mais próximas.

A imagem do Novo Mundo e, nele, a do Brasil, foi elaborada, portanto, a partir dos impulsos da própria novidade em si, contribuindo para desequilibrar concepções de mundo até então admitidas. A bondade e inocência originais do homem, a inexorável lei natural, o pacto governante-governados, a possibilidade de viver sem acumular riquezas eram teses sociais que recebiam fortes endossos “empíricos”, documental, com a visão do paraíso construída ao longo do século XVI.

Bibliografia:

WEHLING, Arno & WEHLING, Maria José C. M. Formação do Brasil colonial. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

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