quarta-feira, 28 de julho de 2010

O MAL AMBIENTAL COMPENSA

Por Mario Moscatelli

Pois bem, passados nem um ano do último vazamento, mais um presente de natal atrasado nos foi enviado pela empresa mineradora mineira Rio Pomba Cataguases.

Como eu já havia previsto com meus “poderes mediúnicos” em 2006, falando sobre o primeiro desastre e alertando sobre nossa bomba ambiental carioca, a Ingá Mercantil em Sepetiba, que o primeiro vazamento seria “apenas mais um”, como infelizmente acabou se concretizando.

Fica a pergunta: Como o biólogo sabia? Seria ele um iluminado? Um alien?

Não prezados amigos, nada disso! Tendo nascido no Brasil há 42 anos, criado numa família italiana politicamente ativa e acompanhando e participando de muito perto de tudo que acontece no meio ambiente desde 1987, é fácil saber que o “Mal compensa” principalmente se for no meio ambiente.

Ora, ora, lembrem daquela porcalhada que a estatal petrolífera fez em 1997 na baía de Guanabara e depois mais uma vez a lambança em 2000. Lembrem também das três grandes mortandades de peixes na laguna Rodrigo de Freitas de 2000 a 2002 onde foram mortas 400 toneladas de peixes exclusivamente pelo esgoto que escoava das galerias de águas pluviais.

Não adianta, somos de uma cultura fatalista, onde sabemos que vai dar merda, mas sempre acreditando na impunidade e que a culpa sempre acaba caindo no colo da Mãe Natureza ou de algum subalterno descartável ou mesmo já falecido. Tudo acaba em milhares de “pizzescas” páginas de papel, com laudos e mais laudos, muito bem embasados por escritórios de advocacia muito bem pagos, sendo que os assassinos ambientais acabam livre, leve e soltos para cometerem mais um genocídio ambiental.

Pergunto: Alguém, pessoa física, foi punido no caso da estatal petrolífera? E no caso da estatal de águas e esgoto? E nessa empresa de mineração? Salvo meu engano, EU DUVIDO!

Enfim, cabe aos infelizes que foram bombardeados pela mineradora, mais uma vez, não ficar esperando pela ação exclusiva do “puder púbico” e entrar na briga com a cara e a coragem pelos seus prejuízos, senão daqui a algum tempo cria-se mais um TAC, que apenas em raras ocasiões é de fato cumprido, visto que fiscalização para acompanhar o tal acordo, se existe, eu não conheço, e que no final das contas, quem sai ganhando é quem degradou passando as férias em algum resort em algum lugar mais desenvolvido.

Minha sugestão “revolucionária” à população local é tomar a sede da empresa degradadora e não sair de lá enquanto o dinheiro das indenizações também não sair e se baseia na seguinte informação obtida dos meios de comunicação: “A multa de R$ 75 milhões à Mineradora, responsável pelas barragens de onde vazaram 2,3 bilhões de litros de lama, em Miraí (MG), pode demorar até ser revertida em ajuda à população atingida.

Apesar da determinação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente para que todo o dinheiro seja empregado na recuperação social e ambiental, a empresa pode adiar o pagamento por meio de recursos administrativos. Até hoje não foi paga a multa referente ao acidente de março de 2006, quando também houve rompimento das barragens de contenção da lama utilizada para a lavagem da bauxita. Na ocasião, a empresa foi obrigada a pagar R$ 75 milhões pelas autoridades mineiras, mas conseguiu adiar a multa ao entrar com processo no Conselho Estadual do Meio Ambiente.”

Por isso que eu AFIRMO que no BRA$$$$IL o MAL AMBIENTAL COMPENSA.

Além disso, trabalhando nos pobres manguezais de Duque de Caxias, onde a legislação ambiental que os protege ainda não chegou, deparei-me mais uma vez com os sinais que não param de aportar através das marés.

Estou recuperando mais uma área de aproximadamente 30.000 metros quadrados na foz do rio Sarapuí-Iguaçú, sendo que durante as fortes chuvas ocorridas ultimamente, nossa área de plantio foi bombardeada por pelo menos 15 sofás, quatro poltronas, dezenas de tubos de imagem e tudo mais que vocês possam imaginar.

Todo esse material literalmente impermeabiliza a lama e impossibilita qualquer tentativa de recuperação natural dos manguezais. Numa área de 300 metros quadrados foi possível estimar a retirada de 15 toneladas de resíduos!
Sinto uma tristeza imensa vendo aquele cenário de destruição e descaso quase que total por tudo aquilo. Naquele silêncio contemplativo das árvores que nos observam trabalhando sinto, porém muita obstinação pela vida. Também há misturada com a minha tristeza, uma esperança ativa de poder recuperar. Lutamos por áreas desconhecidas, abandonadas, mas sinto que podemos reverter esse quadro. É possível, eu sei, eu sinto.





Ainda há esperança!
plantios experimentais com mangue vermelho produzidos no local


Que a Força esteja com vocês..................

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Petróleo no Golfo do México: Atentado terrorista ao meio ambiente


Por Douglas Barraqui


Os especialistas “em coisa alguma” foram ágeis para projetar os danos apocalípticos sobre o derramamento de óleo no Golfo do México: mais de 1600 quilometros de águas irreparáveis e praias em estado de risco; a pesca será prejudicada por temporadas indeterminadas; espécies fragilizadas levadas à extinção e o mais trágico, para não dizer cômico, a indústria petrolífera arrasada por anos, coitada.


Em 20 de abril de 2010, na costa do estado da Lousiana, EUA, o homem desferiu o maior atentado terrorista da história contra o meio ambiente quando a torre de perfuração de petróleo Deepwater Horizon, da operadora britânica British Petroleum (PB), explodiu e pegou fogo.


Obama chamou o vazamento de “um possível desastre ambiental sem precedentes”. O fato é que é decepcionante a forma com que o presidente americano vem tratando o vazamento de petróleo do Golfo. Os conservadores lançam farpas afiadas contra o governo Obama, dizem que o desastre do Golfo é algo como o Katrina de Obama, acontecimento no qual ele está demonstrando a mesma incompetência de George W. Bush depois do desastre natura. Todavia, o desastre no Golfo não é, como disse o governador do Texas Mr. Rick Perry, “um ato de Deus”, não é um desastre natural, mas sim um ato humano, é o nosso 11 de setembro de 2001, contra o meio ambiente.


Para se ter uma idéia bem cômica da proporção apocalíptica sem precedente que está tomando este acontecimento, uma estatal iraniana (arques inimigos do “tio Sam”) de petróleo ofereceu ajuda para conter o vazamento que irá atingir os Estados Unidos. Contraditório? Não! O Irã sabem muito bem que o problema ambiental dos EUA não é somente o problema dos EUA, mas sim de todos que vivem neste planeta, levando em consideração as consequências para o meio natural.


Já é sabido que mais petróleo está vazando agora no Golfo do México do que qualquer outro momento da história. São cerca de 30.000 a 60.000 barris de petróleo por dia, especialistas já dizem que este acidente superou o hecatombe do petroleiro Exxon Valdez, em 1989, na costa do Alasca, que contaminou 2.000 quilômetros de praias e dizimou milhares de aves marinhas, lontras e focas, alem de 250 águias e 22 orcas.


Em meio a tantas especulações e a todas as críticas disparadas por todos para todas as partes a problemática decisiva é o fato deste vazamento estar a uma profundidade média de 1.500 quilômetros, complicando todas as operações técnicas normais, inclusive um simples fechamento de uma válvula, torneira. Que isto nos faça refletir nas dificuldades e, principalmente, nos perigos da exploração de petróleo no nosso Pré-sal, onde as nossas jazidas estão em uma profundidade de 5 a 7 mil quilômetros de profundidade.


Portando, este é sim o maior atentado terrorista da história da humanidade contra o meio ambiente, não são simplesmente seiscentas espécies de animais que estão ameaçados com o vazamento de óleo da empresa britânica, mas sim todos nós seres humanos interligados a vida desse planeta.


Quanto de petróleo ainda tem que ser derramado? Quantos animais marinhos têm que morrer? E quantas mesquitas, armas de destruição em massa e guerras têm que ser movidas com nossa sede por gasolina, fazendo de nós mesmos terroristas em potencial?


Na seqüência dessa tragédia histórica tem que vir um plano de ação para colocar um fim em nosso vício pelo petróleo. Que essa tragédia venha a moldar as mentes humanas de como pensar o meio ambiente para os próximos anos, dando enfoque principalmente em fontes de energias limpas. É nítido que não colocaremos um fim da exploração de petróleo ou nosso vício pelo ouro negro da noite para o dia, mas será que podemos começar?!









Ainda há tempo:

BIBLIOGRAFIAS CONSUTADAS:


Globo Ciência. Obama compara catástrofe no Golfo do México a 11 de Setembro e diz que política ambiental terá que ser reavaliada. Acesso em 23 de julho de 2010.

Jornal o Globo. Obama vistoria o vazamento de petróleo no Golfo do México. acesso em 22 de julho de 2010.


Correio Brasiliense. Vazamento de óleo no Golfo do México é o maior desastre ecológico na história dos EUA. Acesso em 22 de julho de 2010.


G1. Vazamento no Golfo do México é 'pior desastre dos EUA. Acesso em 23 de julho de 2010.



segunda-feira, 12 de julho de 2010

Entrevista com o Professor José Augusto Drummond sobre História Ambiental

O entrevistado da 6ª Edição da Revista História é José Augusto Leitão Drummond. Em entrevista instigante, Drummond, referência e pioneiro nos estudos de História Ambiental no Brasil, aborda problemáticas e perspectivas dessa corrente na passagem do século XX para o XXI.

Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, fez Mestrado em Environmental Science na The Evergreen State College (EUA) e Doutorado em Land Resources na University of Wisconsin(EUA). Atualmente é Coordenador de Pós-Graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília.

Entre os temas de interesse destacam-se: políticas públicas e dos recursos naturais; desenvolvimento sustentável; usos e conflitos em torno dos recursos naturais; políticas ambientais; Amazônia; unidades de conservação; história ambiental.

"O Amapá nos tempos do Manganês - um estudo sobre o desenvolvimento de um estado amazônico (1943-2000)", "Amazônia dinamismo econômico e Conservação ambiental" e "Devastação e Preservação Ambiental no Rio de Janeiro" estão entre algumas de suas principais publicações, além do importante artigo História Ambiental: Temas, Fontes e Linhas de Pesquisa

História Agora - Professor, o senhor é reconhecido como um dos pioneiros dos estudos em História Ambiental no Brasil. Qual foi o seu percurso e como entrou em contato com essa nova área?

Drummond - Em 1986-1988, fiz um curso de mestrado em Environmental Science num pequeno “college” (The Evergreen State College), no estado de Washington, EUA. Eu tinha mais de dez anos de formado (em ciências sociais) e já dava aula em universidade há oito anos. Estava em busca de uma renovação temática. O meu orientador foi Thomas B. Rainey, um historiador que, aos 50 e tantos anos de idade, estava transitando da história política para a história ambiental (área ainda nova nos EUA, naquele momento) e trouxe os seus aprendizados e leituras recentes para a sala de aula e para a nossa interação. O conteúdo geral do curso estava longe de ser de história, e muito menos de história ambiental, mas, como ele era o coordenador do curso e oferecia diversas disciplinas, imprimiu uma marca “histórica” ao curso. De minha parte, eu nunca ouvira falar da história ambiental. Apesar de não ter graduação em história, o meu “viés histórico” pessoal me preparou para tirar vantagem desse componente que o meu orientador promovia com tanta competência no curso.

Uma disciplina específica que cursei teve forte efeito. A pedido de alguns alunos, inclusive eu, Rainey ofereceu um seminário especial sobre história ambiental, no verão de 1987, como disciplina optativa. Esse foi o meu “mergulho súbito e profundo” na história ambiental, embora tivesse lido alguns autores relevantes nos semestres anteriores. Em algumas poucas semanas li e debati numerosos autores contemporâneos de HA, como Alfred Crosby (Ecological Imperialism), Donald Worster (Dust Bowl), Warren Dean (Brazil and the Struggle for Rubber), Richard White (Land Use, Environment and Social Change), Roderick Nash (Wilderness and the American Mind), Frederick Turner (Beyond Geography), Stephen Pyne (Fire in America), Joseph Petulla (American Environmental History), William Cronon (Changes in the Land), Michael Smith (Americans and their Forests), além de alguns clássicos, como Frederick Jackson Turner (vários textos curtos) e Walter Prescott Webb (The Great Frontier). Quase tudo que li desde então e que cabe no escaninho da HA é escrito por esses autores, por autores que eles citam ou por autores associados a eles.

Das leituras desses livros (todos muito bons e alguns excelentes) e dos debates em torno deles escrevi um paper para a disciplina, sobre o replantio da Floresta da Tijuca, paper este que acabou se tornando a pedra fundamental da dissertação que escrevi no ano seguinte (sobre os parques nacionais do Rio de Janeiro). O capítulo da tese sobre a Tijuca virou a base de um artigo que publiquei em 1988 em Estudos Históricos. As anotações de leitura feitas na mesma disciplina ajudaram na composição de um artigo “historiográfico” publicado em 1991, na mesma revista. A disciplina com Rainey foi, portanto, prolífica, gerando dissertação e dois artigos e abrindo todo um novo campo de interesse para mim. Esses artigos de Estudos Históricos dão a alguns a idéia incorreta de que um não-historiador como eu possa ser um “pioneiro” da história ambiental no Brasil.

HA - Qual foi a recepção do ambiente acadêmico brasileiro no final da década de 80 para essa abordagem da história?

Eu não sou a pessoa certa para responder essa pergunta, pois no meu retorno ao Brasil, depois do mestrado, continuei o meu trabalho no Departamento de Ciência Política, na UFF. Não fiz grande esforço em prol da história ambiental e mesmo a minha formação “ambiental” mais ampla no curso de mestrado ficou um tanto subutilizada, já que havia outras demandas a serem atendidas. Continuei lendo, por conta própria, autores de história ambiental de língua inglesa e apliquei a “lente” da história ambiental a leituras antigas e novas sobre o Brasil (Freyre, Prado Jr., Oliveira Vianna, Alberto Torres, Darcy Ribeiro, Holanda, Josué de Castro, as narrativas de viajantes etc.), mas isso não se traduziu em muitas aulas ou em quaisquer novos escritos. Traduzi o livro citado de Frederick Turner (traduzido como O Espírito Ocidental contra a Natureza), publiquei uma resenha sobre o livro de Dean sobre a borracha, organizei um dossiê de meio ambiente e história para Estudos Históricos, sugeri a algumas editoras a tradução de alguns livros mencionados acima. Pouco mais fiz do que isso pela “causa” da história ambiental nos anos imediatamente depois de 1988.

A minha “roda” pessoal de acadêmicos brasileiros interessados em questões ambientais só incluía um historiador, José Augusto Pádua, com quem tive um intercâmbio muito rico. No entanto, no princípio e nos meados da década de 1990, ele não tinha uma produção sistemática sobre história ambiental. Embora investisse muito em leituras sobre o assunto, ele passou um bom período fora do circuito acadêmico, até concluir a sua tese de doutorado, que se transformou no excelente livro Um Sopro de Destruição. Os demais integrantes da minha mencionada “roda” eram sociólogos, economistas, antropólogos, cientistas políticos, geógrafos, planejadores, muito mais interessados em questões contemporâneas ou atuais, nas quais a aplicação do viés da história ambiental era muito rara.

Ao escolher o meu curso de doutorado, que iniciei em 1991, “fugi” um tanto da história ambiental, pois ingressei em um curso sobre recursos naturais e desenvolvimento, na University of Wisconsin. Apesar de ter feito uma disciplina de geografia histórica com William Denevan e de ter assistido várias palestras de William Cronon, fiz uma tese muito mais parecida com a sociologia do desenvolvimento, com forte viés “contemporâneo”. Estudei um empreendimento minerador no estado do Amapá que começou na década de 1940 e mal chegou a completar cinco décadas de funcionamento. Embora muito mais “durável” do que a grande maioria dos empreendimentos produtivos da Amazônia, é um objeto de “vida curta”. Ainda assim, tentei incorporar na tese alguns insights extraídos da história ambiental.

Por que “fugi” da história ambiental? Talvez tenha sido para “reaquecer” a minha formação original de cientista social interessado em políticas de desenvolvimento. De outro lado, se a “recepção” da história ambiental nos meus circuitos pessoais e profissionais mais próximos tivesse sido mais ampla logo depois de 1988, talvez eu tivesse optado por fazer um doutorado em história ambiental – e tive oportunidade para tanto. Para melhor ou para pior, continuei a ter um pé e meio fora da área acadêmica de história.

Essa pergunta sobre a recepção da história ambiental no Brasil poderia ser respondida com mais proveito, portanto, em entrevistas com José Augusto Pádua, Regina Horta Duarte, Gilmar Arruda, Arthur Soffiatti e Lise Sedrez, entre outros, historiadores que escreveram teses e/ou dissertações de história ambiental e que estão produzindo no campo. Christian Braanstrom e Shawn Miller, norte-americanos, estudam diligentemente a HA do Brasil e poderiam também dar depoimentos interessantes.

HA - Conte-nos um pouco da formação do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UNB? Há um lugar para a História Ambiental nessa proposta? Quais são suas atuais pesquisas?

O CDS foi criado em 1995 por um grupo de professores da UnB interessados em investir nas questões situadas na interface do social com o natural. A adoção do ‘desenvolvimento sustentável’ como ‘tema definidor’ do centro resultou de um consenso entre eles, assim como a área de concentração principal (política e gestão ambiental). Não participei do grupo fundador e acho que nenhum historiador da UnB fez parte dele. Muito mais tarde, quando fui convidado a ‘aderir’ ao CDS, foi muito mais pelas temáticas citadas no meu Lattes do que pelos meus investimentos na história ambiental. Como disse antes, tenho vários interesses (principalmente unidades de conservação e empreendimentos produtivos de recursos naturais) que distintos da história ambiental e foi com eles que criei o meu nicho no CDS, a partir de 2001, quando iniciei uma fase de quase três anos como pesquisador associado. Mais recentemente, com apoio de um pós-doutorando que é historiador, tenho conseguido imprimir um conteúdo parcial de HA às minhas aulas, orientações e publicações. No entanto, o peso específico disso entre professores e alunos e dentro da produção do CDS é ainda bem reduzido.

HA - Professor no artigo “A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa” o senhor afirma que: “Mas a minha ambição maior é convencer alguns historiadores e outros cientistas sociais a incorporar variáveis ambientais aos seus estudos sobre a sociedade humana.”, passados quase vinte anos o senhor acredita que essas variáveis ambientais foram incorporadas pela historiografia e pela produção das ciências sociais?

Não, ou quase nada. Ainda é um tabu para os cientistas sociais admitir que as sociedades humanas possam ser condicionadas, conformadas, direcionadas ou determinadas por qualquer força da natureza. Ainda recebo reações azedas e mesmo irônicas a essa sentença transcrita na pergunta, escrita há quase 20 anos. As reações mais fortes vêm daqueles convencidos sobre a “imunidade humana” à natureza – para eles, os humanos ficam fora e acima da natureza. Estes são “humanistas” extremos, no sentido de privilegiar uma espécie animal tão recente tão recente como a dos humanos e colocá-la acima de todo e qualquer fator natural, num planeta de 4,5 bilhões de idade e num processo evolutivo de muitas centenas de milhões de anos. Num aparente paradoxo, no entanto, recolho reações de espanto e censura também entre aqueles que, um tanto pos-modernamente, propõem que a cultura humana está totalmente “dentro da natureza” e que, assim, acreditam que tudo que os humanos fazemos é natural. Para eles, isso tira o sentido da minha proposição de que variáveis naturais devem ser levadas em conta no estudo das sociedades humanas. Para esses críticos, religião, sistemas de parentesco, escrita e arte são coisas tão naturais quanto pedras, água, plantas e bichos, não se colocando, portanto, a distinção implícita na minha proposição. Há ainda os criacionistas, para quem natureza e cultura são criações divinas que não podem nem devem ser estudados nas suas influências mútuas, pois isso negaria o papel e os propósitos do criador. Francamente, mesmo discordando frontalmente dessa terceira posição, acho que ela é muito mais coerente do que as outras duas... Ou seja, essa é uma questão espinhosa sobre a qual as polêmicas nunca cessarão.

HA - Nesse sentido, e ainda remetendo ao seu artigo, a proposta da História Ambiental não seria apenas o estudo de um aspecto da vida humana, que seria a relação entre o homem e a natureza. Em nosso entender, a História Ambiental propõe que o percurso de uma sociedade no tempo não pode ser dissociado do ambiente que a cerca e, dessa forma, toda história deve ser não apenas social, como também ambiental. Estamos corretos?

Sim, é isso que sustento, embora não defenda um fundamentalismo para a HA. Há vários aspectos da aventura humana que podem ser tratados sem rígidas ”ancoragens” ambientais.

HA - Como o senhor vê a História Ambiental hoje no Brasil? É um campo consolidado?

Em maio de 2008 ocorreu em Belo Horizonte o primeiro grande encontro acadêmico de história ambiental no Brasil, organizado por Regina Horta Duarte, da UFMG, uma das lideres da disciplina no Brasil. Não sei a contagem exata, mas houve várias dezenas de papers e umas 150 pessoas presentes, embora se deva levar em conta que o evento reuniu historiadores ambientais da América Latina e do Caribe. Tive a grata satisfação de perceber durante o evento uma certa “ebulição” sobre o assunto, já que ele atraiu profissionais com investimentos antigos, alguns “visitantes” eventuais (como eu) e numerosos jovens estudantes de pós-graduação e graduação que se dedicam integralmente à HA.

Fiz a palestra de abertura do evento, tentando colocar o dedo no pulso do “estado da arte” da história ambiental no Brasil. Tive o cuidado de não ler a programação do evento antes de preparar a palestra, para não influenciar as minhas escolhas de quem seria mencionado, mas constatei que quase todos os autores brasileiros contemporâneos que mencionei estavam na platéia, alem de alguns estrangeiros. No entanto, havia também profissionais de quem eu nunca ouvira falar. Ou seja, embora talvez ainda não consolidado, o campo da história ambiental está certamente em crescimento.

HA - Em relação às fontes e métodos, o historiador ambiental trabalha com fontes tradicionais, mas também vai a campo, trabalho pouco afeito aos historiadores convencionais. Que instrumentais teóricos o historiador deve levar consigo e o que ele deve procurar no campo que interesse à História Ambiental?

Repito o que escrevi naquele artigo de 1991 – o instrumento “teórico” principal que o historiador ambiental leva ao campo é a capacidade de ler as marcas da ação humana na paisagem. No entanto, principalmente quando se trata de paisagens não-urbanas, isso não é algo que se aprenda a fazer no campo da história ou das ciências humanas ou que se documente com cartas, mapas e decretos. Aprende-se a fazer essa leitura com um conjunto de ciências naturais e da vida – geologia, biologia, ecologia, geografia física etc. Em alguns casos, a arqueologia também ajuda. Atividades humanas – extração de plantas, agricultura, caça, retirada de madeira, represamento de rios, mineração, disposição de resíduos etc. – deixam marcas por vezes bastante óbvias e duráveis nas paisagens, mas a sua visibilidade não é necessariamente fácil para cientistas humanos, que por isso precisam se preparar para tanto.

A tarefa fica mais fácil quando existe documentação – linguística, escrita, arqueológica, oral-mitológica e até genética – que informe sobre as atividades humanas independentemente de as marcas na paisagem existirem ou serem visíveis. Se sabemos, por exemplo, que uma ferrovia foi construída numa determinada data, num determinado lugar, podemos supor, com alto grau de segurança, que ocorreu uma série de efeitos sobre as paisagens – desmatamento, construção de estradas vicinais, pontes e túneis, incêndios, uso de lenha como combustível, além da retirada de cargas locais (minérios, madeira) e da entrada de outras cargas (materiais de construção, alimentos, utensílios, ferramentas etc.). Talvez um cronista ou um jornal local e o memorial da obra confirmem uma ou mais dessas hipóteses. Os manifestos de cargas da ferrovia – se existentes - podem ajudar a confirmar ou negar o intercâmbio de bens. Em um ambiente urbano, o aterro de um manguezal para construção de bairros e portos pode ter deixado poucas marcas “naturais”, mas documentos de planejamento governamental e jornais podem ajudar a confirmar a alteração na paisagem. Um trecho de rio urbano retificado e canalizado teve um dia um leito sinuoso agora desaparecido, mas que talvez tenha ficado registrado nos em pinturas dos artistas ou fotografias. Assim, o historiador ambiental que vai ao campo ainda deve continuar atento aos documentos capazes de confirmar e até enriquecer o que consiga deduzir das marcas físicas nas paisagens.

Como disse em outro texto, é útil também para a HA um conhecimento seguro das floras nativas, com base na biologia e na ecologia. Não foi por acaso que Warren Dean cursou um mestrado em botânica tropical antes de se aprofundar na sua pesquisa sobre a destruição da Mata Atlântica. O conhecimento da flora nativa permite ler melhor as marcas humanas na paisagem, pois que os humanos tipicamente interferem direta e vigorosamente nela e alteram os seus aspectos naturais – densidade de biomassa, composição de espécies, fisionomia, extensão – e a fauna que vive nelas. Poucos ecossistemas terrestres ou aquáticos ficaram imunes a influências humanas. A ação humana é quase onipresente. Ainda assim, ela só pode ser adequadamente medida se praticarmos uma “supressão metodológica” dos humanos, perguntando: para onde iria a flora nativa sem a interferência humana? Só assim teremos parâmetros para avaliar o “peso” e o papel reais dos humanos na conformação e na mudança das floras regionais. Isso porque a criatura humana fez uma aparição recentíssima, se considerarmos a enorme duração dos processos geológicos e biológicos que moldaram a biosfera.

Outra consideração “teórica” relevante vem das mesmas ciências mencionadas – o abandono do chavão do “equilíbrio ecológico” (tão caro a muitos ambientalistas bem intencionados). O chamado “equilíbrio ecológico” tem muito pouco de equilíbrio, pois geosfera, biosfera e atmosfera têm sofrido transformações moderadas e radicais, há eons, independente de artefatos humanos como a agricultura de queimada ou a bomba atômica - rachaduras, deslocamentos e colisões dos continentes, colisões com asteróides, eras glaciais, subidas e descidas dos níveis de temperatura e dos oceanos, mudanças na composição da atmosfera, o próprio surgimento da vida e de diferentes formas de vida e as numerosíssimas extinções de espécies. Assim, na história do planeta ocorrem tanto a continuidade quanto a mudança, independente da cultura humana, e muitas dessas mudanças foram radicais.

Por isso, os historiadores ambientais não devem exagerar a capacidade humana de alterar a natureza, embora o Homo sapiens seja um animal dotado de uma capacidade singular de produzir alterações e seja suscetível aos efeitos de sua própria capacidade modificadora. Temos, como espécie, por exemplo, um apego aos ecossistemas em desequilíbrio, apego refletido na nossa agricultura (mesma nas suas formais mais “simples”) e na seleção dos nossos principais animais domésticos (cavalos, bois, ovelhas, cabras, burros, jumentos, lhamas, camelos, búfalos, renas), que são basicamente herbívoros que comem capins, gramas e ervas de pradarias, campos e savanas. A cultura humana é, pois, aliada histórica dos ecossistemas de flora aberta ou de ecossistemas artificialmente mantidos em desequilíbrio, e a prova cabal disso está no seu portfolio de plantas e animais prediletos e nas paisagens majoritariamente abertas e homogêneas que ela produz.

HA - Do ponto de vista metodológico e teórico, A disciplina História Ambiental pode ser estendida até o tempo presente?

Assim como existe uma história política, ou econômica, ou social contemporânea, não vejo porque a história ambiental não possa ser contemporânea também. Uma dificuldade do “tempo curto” pode ser a impossibilidade de atribuir certas mudanças ambientais e sociais a causas específicas, mas isso parece ser comum a outras histórias contemporâneas. O importante é levar em conta que certas mudanças na natureza obedecem a cronologias (tempo geológico, tempo biológico) pouco ou nada relacionadas com o tempo das culturas humanas. Tenho lido afirmações enunciadas com uma certeza – ou será desconhecimento? - que me choca quando esse cuidado com os tempos diferenciados não é adotado.

Um exemplo: está se tornando um lugar comum afirmar, sem qualquer evidência, que certas populações “tradicionais” são responsáveis pela “criação de espécies”, só porque elas moram num mesmo lugar há 50 ou 500 anos e lidam com uma parte ínfima de sua flora, e quase exclusivamente para fins utilitários. Os “tradicionais” aparecem assim gigantescos, substituindo o processo evolutivo. O fato é que os humanos pouco podem fazer nesse campo da “criação” de espécies. As suas opções são: (1) extinguir espécies criadas pelo processo evolutivo, (2) redistribuir/transportar espécies de um lugar para outro (‘reembaralhando’ as formas de vida criadas pelo mesmo processo evolutivo) e (3) “deixar em paz” as espécies existente nos locais onde moram. Se forem agrícolas e pecuários, talvez consigam chegar a uma quarta possibilidade - desenvolver variedades de uma parcela ínfima das espécies criadas pelo processo evolutivo, ou seja, das espécies domesticadas de interesse estrito para a própria humanidade. No entanto, “criar” de fato uma espécie (1) exige um tempo que não é medido nem em anos, nem em décadas, nem em séculos, nem em milênios (escala máxima de tempo que seja significativa para a cultura humana registrada) e (2) requer o controle sobre processos que nem de longe estão ao alcance de qualquer cultura humana. Talvez as modernas empresas de biotecnologia sejam exceção, pois que aprenderam a pisar no acelerador para aumentar a velocidade das lerdas mudanças genéticas, de forma a aproximá-las das ágeis demandas culturais. Os resultados desse ajuste são os OGMs, que se parecem mais com novas espécies do que qualquer outra coisa de que eu conheça. Porém, essas empresas nada têm de tradicionais...

HA - O senhor mencionou em seu supracitado artigo, que a História Ambiental surge também como uma demanda da sociedade que então adquiria uma consciência ecológica. O senhor avalia que a produção da História Ambiental já atende essa demanda? Quais foram os frutos políticos e sociais que a História Ambiental no Brasil colheu?

Quando escrevi isso, eu estava empolgado com a rapidez com que crescia a preocupação com o meio ambiente em vários setores da sociedade e do governo brasileiros. Bastaram alguns poucos anos a mais, porém, para mostrar que a questão ambiental passava naquele momento por um crescimento exponencial que acabou se suavizando, já que outras questões mobilizaram a atenção e a energia dos cidadãos – inflação, desemprego, criminalidade, educação, dívida externa, saúde, eleições regulares etc. Acabou ocorrendo o que é normal em sociedades complexas como a brasileira – uma questão que parece destinada a ser de preocupação geral se torna uma questão “setorial”.

No entanto, é preciso reconhecer que o “setor” que no Brasil se preocupa com o ambiente é grande, visível, diversificado e até bem articulado. Não obstante, ele perdeu a capacidade de “empolgar” as maiorias, de “monopolizar” agendas e de influenciar governos. Isso está mais claro do que nunca na coalizão que elegeu e sustenta Lula, a mais francamente “em-favor-do-desenvolvimento-a-qualquer-custo” desde a coalizão que deu apoio a Ernesto Geisel. A única coisa “sustentável” que interessa à coalizão lulista é sustentar altas taxas de crescimento do PIB. Note bem: essa coalizão tem apoio maciço do eleitorado brasileiro. Ela não “traiu” a causa ambientalista – muito pelo contrário, revelou o seu tamanho real, que infelizmente é muito menor do que eu gostaria que fosse. É demais esperar que a história ambiental ou que a produção de qualquer ramo da ciência tenha papel central na reversão desse quadro, mesmo a médio prazo. Da maneira que estão as coisas, a nossa enfraquecida “frente ampla” ambientalista terá que se empenhar para virar o jogo e retomar parte da força e da capacidade de influenciar que ela teve há cerca de 20 anos.

HA - Professor, falemos da Amazônia. Recentemente a Ministra Marina Silva pediu demissão do seu cargo no Ministério de Meio-Ambiente em função, dentre outras coisas, da expansão da fronteira agrícola na Floresta Amazônica. Há ainda a questão do desmatamento ilegal e do crescimento desordenado das cidades. Como o senhor vê a atuação do Estado Brasileiro para a resolução ou contenção desses problemas e conflitos? Na Amazônia, há ainda a questão indígena e o direito ao acesso à terra. O senhor pensa que as reservas indígenas podem contribuir para a preservação da floresta? Ou essas reservas trazem novos problemas, inclusive ambientais?

Marina Silva fez e continua a fazer parte da citada coalizão “desenvolvimento-a-qualquer-custo” que elegeu e que dá apoio a Lula. Ela era o elo mais “verde” – ou o único elo “verde” – dos ocupantes de cargos dessa coalizão. Ela sabia dessa sua excepcionalidade e resolveu enfrentar um jogo muito difícil. Isso é admirável, mas ela errou totalmente ao fazer do seu ministério um “ministério não-governamental”, que preferia conversar endogenamente consigo mesmo e dar as mãos às ONGs que a apoiavam do que dialogar com os ministérios de grande musculatura e que financiam ou apóiam as atividades mais fortemente impactantes do meio ambiente. Errou também ao subordinar a questão ambiental de forma fundamentalista à questão social, desprezando a importância da proteção da biodiversidade pelo seu valor intrínseco e condicionando-a à melhoria das condições de vida de certas parcelas da população rural brasileira. Ficou falando sozinha.

Essa digressão serve (1) para mostrar que o estado não tem tido posição monolítica na questão ambiental e (2) para sugerir que o viés escolhido por Marina Silva reduziu substancialmente na esfera política o peso específico nada desprezível que o conjunto dos ambientalistas tem na sociedade brasileira. A gestão Marina propiciou um retrocesso na política ambiental nacional que levará uma década para ser recuperada, pois trivializou a questão ambiental (igualando-a à questão social), assumindo um tom outsider de fórum social mundial encravado na administração Lula, ao invés de superar a adolescência política e pisar com firmeza na arena propriamente governamental. É quase trágico que isso tenha sido conseguido ao custo do desgaste profundo, se não da liquidação, de um ícone do movimento ambientalista – mulher, amazônida, pobre, não-branca, forjada nas lutas sociais contra o desmatamento na Amazônia.

Pensando em escala temporal mais ampla, a Amazônia tem vivido uma oscilação pendular no imaginário nacional dos últimos 100 anos da nossa história, aproximadamente – décadas de esquecimento (menos pelos próprios amazônidas, é claro) são seguidas por alguns anos de preocupação exacerbada. Desde que a erosão da biodiversidade se tornou uma questão premente na opinião pública de alguns países desenvolvidos, em meados dos anos 1980, o Brasil, grande detentor de biodiversidade, e a sua parcela amazônica, em particular, viraram foco de atenção internacional. Essa “pressão internacional” colocou de novo, e desta vez mais duradouramente, a Amazônia como questão premente para os brasileiros em geral. Desde o início desse ciclo e até hoje houve brasileiros que passaram a se preocupar com a Amazônia no sentido de moderar o uso dos seus recursos para fins produtivos, preservar trechos dela, aproveitar oportunidades de usar a floresta sem destruição (por exemplo, com turismo, pesquisa científica, bioprospecção, aproveitamento sustentável da biodiversidade etc.). Mas houve também correntes que, aparentando levar em conta o apelo internacional e nacional de uma Amazônia ‘preservada’, sempre colocaram o imperativo de que, mesmo com preservação e com uso moderado dos seus recursos, a região é destinada a nada menos do que alavancar o país para a condição de grande potência desenvolvida, com base na exploração intensiva dos seus recursos naturais. É esse segundo grupo – que, aliás, tem integrantes fortes na própria Amazônia - que prevaleceu na coalizão pró-Lula e nos seus governos.

Tento explicar melhor a importância do ponto que levantei antes - o da subordinação do ambiental ao social. Todos os indicadores sociais da população brasileira vêm melhorando desde 1995. Alem disso, a aposta da coalizão no poder no “espetáculo de crescimento” a altos percentuais se concretizou (embora menos espetacularmente do que o desejado...). Os demais ministérios se valeram dessa oportunidade para provar que era possível e até desejável ignorar as “restrições” ambientais e manter o MMA no congelador, sob pressão cerrada da Casa Civil para liberar licenças ambientais. Para que “frear” o tão desejado crescimento com restrições ambientais, se ele está gerando benefícios generalizados para a população? - perguntam ruralistas e aliados. Aliás, o próprio ressurgimento dessa posição retrógrada e equivocada – cuidar do meio ambiente atrasa o crescimento – e a sua prevalência neste momento são produtos diretos da era Marina, que à sua moda também subordina a proteção do ambiente natural ao bem-estar da sociedade. E assim se foi Marina e assim continuam a avançar desordenamente as frentes agrícolas e pecuárias na Amazônia...

As terras indígenas se baseiam em um preceito constitucional que considero uma grande conquista da sociedade brasileira. Se elas têm efeitos favoráveis à manutenção das floras amazônicas, essa é uma questão distinta. Mesmo que os indígenas “detonassem” o ambiente natural de suas reservas, estariam dentro do seu direito histórico de povos desapossados territorial, cultural e espiritualmente. Sou contra a alegação de que aqueles que tenham ou aparentem ter cuidado especial com a natureza mereçam direitos especiais. No entanto, os dados que conheço indicam que, sim, as terras indígenas têm contribuído para a preservação das florestas amazônicas, pelo menos no curto e médio prazos. Terras indígenas criadas mais recentemente em áreas de flora nativa em bom estado têm em geral mantido essa flora em melhor estado do que as terras nas suas vizinhanças.

Por último, tratarei brevemente da questão do acesso à terra na Amazônia. Eis aí um tema - acesso à terra - que deverá dar muito pano para muitas mangas dos nossos historiadores ambientais, quer estudem o passado ou o presente, quer estudem a Amazônia ou qualquer outra região do Brasil. A precariedade da documentação e da efetividade dos direitos de propriedade dos “pequenos” agricultores, aliada à grande abundância de terras pelo menos medianamente aptas para a agropecuária, fazem de pequenos e grandes agricultores brasileiros esbanjadores dos recursos – solos, águas, flora, fauna etc. -, cada um na sua escala. Daí a sucessão de fronteiras de expansão cuja ocupação caracteriza tão fortemente a história nacional. A Amazônia de hoje é apenas mais um capítulo dessa dinâmica de longa duração. Se esse sistema propicia esse esbanjamento, por outro ele tem ajudado a frear a velocidade de expansão das fronteiras agrícolas, já que ele tem vencido secularmente qualquer tendência à democratização do acesso à terra – e esse acesso democratizado, desejável do ponto de vista político, na ausência de outros fatores, apenas aceleraria a ocupação e a destruição das fronteiras do passado, do presente e do futuro. Esse caráter ambientalmente ambíguo do sistema agrário socialmente iníquo de grande propriedades terá que ser matéria de muitos estudos de história ambiental.


Fonte: História Agora

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Por uma história ambiental: A natureza de volta aos braços do homem

Douglas Barraqui – Pesquisador em História Ambiental (UFES)

Resumo: Adentramos o século XXI em meio a uma realidade dramática e vertiginosa, a de uma devastação ambiental em proporções catastróficas. O presente artigo vem apresentar a história ambiental – sua origem, métodos, conceitos, temas e fontes –; traçar um panorama de como ela está sendo feita no Brasil e; enquanto disciplina produtora do conhecimento histórico, destacar sua importância como uma ferramenta fundamental e necessária para trazer a natureza de volta aos braços do homem, tanto em termos de formação de uma consciência ecológica quanto em termos de tomada de ação propriamente dita. Haja vista que, fazemos parte de uma grande “aldeia humana” que esta interligada, incondicionalmente, ao destino do planeta e onde os problemas as soluções, bem como, o agir, são de interesse todos. O objetivo da história ambiental, que vai além dos muros das universidades, é fazer o homem emocionar-se com a natureza, superando assim o distanciamento – a dicotomia – que existe entre ambos.

Palavras Chaves: História ambiental / Meio ambiente / Consciência ecológica

Abstract: we enter the twenty-first century amid a tragic and giddy reality, the environmental devastation of a catastrophic proportions. This paper presents the environmental history - its origins, methods, concepts, themes and sources -; examines how it is being made in Brazil and, as a discipline producer of historical knowledge, highlight its importance as a fundamental and necessary tool for bringing nature back into the arms of man, both in terms of formation of ecological awareness and take action itself. Considering that we live in a large “village human” that are interconnected, unconditionally, the fate of the planet where the problems and solutions, as well as the actions, are of interest to all. The goal of Environmental History, which goes beyond the walls of universities, is to excite the man with nature, thus exceeding the distance - a dichotomy - that is between them.

Keywords: Environmental history / nature / Ecological awareness


Primeiras Considerações

“Estamos diante de um momento crítico na história da terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir a diante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum.”1 (carta da terra, maio de 2000)

Quando o homem encontrou o tempo geológico da terra, calculada em aproximadamente 4,5 bilhões de anos, 2 também descobriu que, dentro do grande livro da vida do planeta, a cultura humana se fazia na última página de uma pequena frase ao fim de uma nota de rodapé 3 que, aos olhos do mais fervoroso “homo ambiental”, aparece como uma idéia desencontrada e destoante de toda a compilação.

Adentramos o século XXI em meio a uma realidade ecológica, diagnosticada empiricamente, que como nenhum outro momento da história, solicita mudanças urgentes. Contemporâneas desse impasse civilizatório, as ciências humanas são desafiadas, em vários aspectos, a provar seu valor em meio a uma forte demanda emergencial por eficiência. Eis, então, a história ambiental:

“[..] como um sujeito, é o estudo de como os seres humanos têm se relacionado, com o mundo natural através do tempo; como um método, é a aplicação de princípios ecológicos para a história”.4 “Sua principal meta é aprofundar nossa compreensão de como os seres humanos têm sido afetado pelo seu ambiente natural através do tempo e, inversamente, como eles têm afetado o ambiente e com que resultados.”5

A história ambiental, como campo da produção do conhecimento histórico, visa romper com a dicotomia homem/natureza e retirar as questões ambientais de seu gueto colocando-as dentro da discussão historiográfica, buscando um novo paradigma, aproximando os problemas, bem como os resultados e as soluções, aos receptores. O historiador ambiental não pode se dar ao luxo de fazer dos problemas epistemológicos da história um mero problema intelectual e científico. Há algo muito mais além, que rompe com os muros das universidades, que, agora mais do que nunca, o historiador será provado e terá que enfrentar, um problema cívico e mesmo moral, o historiador tem uma responsabilidade: terá que “prestar contas”.6

As origens

Seria do vapor da nova história – surgida na década de 1930, essa nova história é interdisciplinar, totalizante, globalizante, é uma “história problema” em oposição à historiografia tradicional, a velha história política e a visão rankiana factualista – que a história ambiental ganharia propulsão. Os próprios mentores da “École des Annales” Marc Bloch, Lucien Febvre e, bem como, Fernand Braudel, “disciple” de Febvre, fizeram importantes caminhadas dentro do que viria a se convencionar como história ambiental: Bloch, com os estudos sobre a vida rural na França; Febvre, com textos sobre geografia social; e Braudel com a concepção de que o ambiente molda o homem – uma história vista do ângulo superior da natureza –, com destaque para a sua obra sobre o Mediterrâneo. 7 Todavia, viria a ser Aldo Leopold, biólogo e conservacionista, quem lançaria as bases da chamada “ética Ecológica” com o livro, publicado postumamente em 1949, A Sand Country Almanac (na edição em português: Pensar como uma Montanha).

Leopold estudou como os fatores de caráter ambiental influenciaram de forma incisiva na disputa pelas terras do Kentucky – conflito travado entre comerciantes franceses, ingleses, colonos norte-americanos e nativos inserido na ótica da expansão para o oeste americano. Os historiadores, por sua vez, demorariam a ser tocados pela “ética ecológica” de Leopold e em, compreender a tão importante contribuição que a aliança entre história e ecologia poderia dar para a construção do conhecimento histórico. 8

A celeuma sobre meio ambiente tomaria conta das agendas políticas de diversos países a partir das décadas de 1960/1970. Patrocinadas pelas Nações Unidas, ocorreram grandes conferências internacionais envolvendo a temática “meio ambiente”: iniciando-se pela conferência O Homem e a Biosfera, em 1972, em Estocolmo; passando pela Eco-92, no Rio de Janeiro; a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2002, na África do Sul, e, o que para muitos viria a ser a mais relevante tomada humana com relação a seu meio natural, o Protocolo de Quioto, originado da reunião de 1997, em Quioto, Japão, que entrou em vigor somente em 2005. Portanto, como se pode ver, o interesse pelo ambiente natural e as preocupações com as relações entre o homem e as outras espécies costumam ser vistas como fenômenos recentes. Alguns apontam para a atitude do homem frente à natureza tendo se modificado, imperceptivelmente, nos últimos cem anos, enquanto outros observadores a denominam como “a mais importante revolução na sensibilidade [humana] desde a Segunda Guerra Mundial”. 9

Foi em meio a essa dita “revolução da sensibilidade”, visível pelas sucessivas conferências sobre crise ambiental global e pela efervescência dos movimentos de cunho ambientalista que a história ambiental, paulatinamente, ganharia espaço. Nasceu, portanto, de um objetivo moral, com um compromisso político, amadureceu nas universidades e, hoje, é desafiada a ultrapassar seus muros.

Em 1970, na Universidade da Califórnia (Santa Barbara), foi criado o primeiro curso de História Ambiental. Igualmente foram fundamentais, a fim de delimitar e aparar as arestas do novo campo, os estudos de Roderick Nash, The State of environmental history 10 (melhor tradução para o português: A Situação da História Ambiental), e mais recentemente, Richard White traçando o desenvolvimento da história ambiental 11 – reconhecendo o trabalho de Nash e de Samuel P. Hays.12 Os Annales, Em 1974, lançam a revista, histoire et environmement, dedicada especialmente a temática da história ambiental. Em 1976, nasceria a Sociedade Americana de História Ambiental, seguida da Sociedade Europeia de História Ambiental 13 e a revista Environmental Review. Todavia, seria em 1990, na mesa redonda organizada pelo Jornal Americano de História, que viria o reconhecimento definitivo desse novo campo.14

José Augusto Drummond, um dos maiores nomes da história ambienta no Brasil, aponta que as ciências sociais por muito tempo, desde a sua origem, acabaram por adotar um “paradigma da imunidade humana” (human exemptionalism paradigm) aos fatos naturais. 15 Tal conjectura fez uma ciência social desintegrada dos fatos ecológicos. Essa forte tendência em pensar a natureza em oposição ao homem ou a cultura vem desde o final do século XVIII e, a esse pensamento de separação, muito iriam contribuir o idealismo e o romantismo alemão do século XIX, que forçaram uma absoluto distanciamento entre cultura e natureza.16 Essa visão acabou por envenenar as ciências sociais, forçando a uma dissociação homem/natureza, sociedade/natureza e cultura/natureza. O papel do historiador ambiental, então, seria romper com essa dicotomia.

A saber sobre: metodologia, temas e fontes

Sob a ótica metodológica, Donald Worster, professor da Universidade de Kansas, destaca três pontos em que a história ambiental se concretiza, ou três questões que ela enfrenta: um primeiro que trata do entendimento da natureza propriamente dito; um segundo que trata das relações entre o domínio sócio-econômico e o ambiente; e por fim, a análise da interação mais intangível e exclusivamente humana.17

A primeira constitui-se de estudos a fim de compreender como a natureza se organizou e funcionou no passado, levando em conta o físico, o biológico e o natural. O objetivo é poder reconstruir a paisagem do passado, a fim de fazer o historiador saber como a dinâmica natural funcionava antes da presença humana. Sem esse prévio conhecimento a história ambiental estará fadada a perder seu embasamento e sua coerência. Logo vem a necessidade de estreitar laços com a zoologia, botânica, ecologia, entre outros, a fim de fomentar um estudo primeiro e básico. Por conseguinte, exige um trabalho de cunho interdisciplinar – trabalho esse que os geógrafos físicos estão bastante acostumados. 18 Na verdade, o historiador ambiental, sistematicamente, depende das ciências naturais e, incondicionalmente, terá que aprender a falar “novas línguas” que serão instrumentos indispensáveis para a reconstrução do passado.

No segundo ponto, que tange a interação entre domínio sócio-econômico e meio natural, é aquele em que o historiador ambiental terá que investigar as ferramentas de trabalho, as relações sociais originadas desse trabalho, as instituições e as decisões de cunho político que de forma direta ou indireta afetam o meio. Este nível, portanto, se presta a analisar a relação homem e meio natural na reciprocidade de impactos: o historiador ambiental buscará entender o papel da natureza na modelagem dos métodos produtivos e, ao contrário, que impactos esses métodos causaram na natureza. Um ponto fundamental, a saber, é que mesmo sendo o homem o criador da cultura – um dos fatos que nos distingue dos demais seres vivos – não se deve desprezar que, em algum grau, a cultura humana é um reflexo do meio natural.

Por fim, a interação mais intangível e exclusivamente humana, mental ou intelectual. Aqui as percepções, os valores éticos, as leis, os mitos, o folclore, a literatura, a religião, a ciência, bem como outras estruturações humanas significativas, passam a ser vistas como parte de um diálogo entre homem/natureza e/ou sociedade/natureza e que, terão que ser incluídas no desenvolvimento da história ambiental.

Ainda percorrendo o viés metodológico, José Augusto Drummond traça algumas características metodológicas, analíticas e as fontes da história ambiental. 19 A primeira, que concerne em limitar um espaço ou um corpo para ser estudado: um vale de um rio, uma ilha, um trecho de terras florestais, um litoral, uma determinada área de ocorrência de um recurso natural de alto valor comercial. As análises, portanto, focalizam uma região com algum grau de homogeneidade ou identidade natural. Conclui-se ainda que, dando ênfase em áreas específicas, a historiografia ambiental se identificaria também com a história regional.

A segunda característica diz respeito a uma interdisciplinaridade, aqui “a história ambiental traz uma série de novos personagens ao palco da história”: 20 um diálogo sistemático com quase todas as ciências naturais sendo aplicáveis nos quadros físicos e ecológicos das regiões estudadas. A geologia, geomorfologia, meteorologia, biologia vegetal, zoologia, ecologia, agronomia, a engenharia florestal a geografia, são alguns exemplos. Todas, em até certo grau, podem contribuir. Os caminhos da pesquisa em história ambiental não podem, todavia, ficar resumidos a meras visitas protocoladas as ciências naturais. Além de “aliadas”, as ciências naturais podem também ser parte do próprio objeto de estudo, um intercâmbio que para a história ambiental, só pode gerar bons frutos.

Uma terceira característica seria a exploração das interações entre o quadro de recursos naturais utilizáveis e não utilizáveis e, os diferentes estilos civilizatórios das sociedades humanas. É fundamental destacar que a natureza oferece ao homem um conjunto flexível e, ao mesmo tempo, limitado de possibilidades a fim de garantir sua sobrevivência. 21 A geografia humana e a antropologia cultural podem fornecer inúmeros conceitos e enfoques úteis a fim de se estudar o papel da cultura nos usos dos recursos naturais. Ignorar a influência dos quadros naturais na história e na cultura das sociedades humana seria uma tolice demasiada. Assim como é verdade que o homem não pode ser separado da ordem ecológica, também é verdade que na reconstrução historiográfica do meio ambiente, o homem, na proporção de sua existência, terá que ser incluído. Os seres humanos não são imunes à influência de seu meio e, o inverso também é verdadeiro.

Uma última característica da história ambiental elencada por Drummond é o trabalho de campo propriamente dito. Existe a necessidade de que os historiadores ambientais tenham contato direto com os locais a serem estudos. A paisagem em si, com todas as suas singularidades e formas, se transforma em um documento que precisa ser lido adequadamente. Trata-se de uma leitura de uma história das paisagens. Como salienta o historiador, Francisco Carlos Teixeira da Silva: “trata-se de uma visão de conjunto, do enlace de múltiplas variáveis, em uma duração sempre longa. Impõe-se para tal uma abordagem holística, de conjunto, uma síntese para além das histórias particulares”. 24 Ao analisar historiograficamente uma paisagem o historiador deve considerar que por ser um sistema relativamente aberto está submetido a várias interferências tanto naturais quanto humanas.

A história ambiental em “terras tupiniquins”

Um país com proporções paquidérmicas – o maior da América do Sul, terceiro maior do continente americano, quinto maior do mundo e com a quinta maior população da terra. Em quase sua totalidade situado, territorialmente, na zona intertropical do planeta – é sabido que a vida se faz mais presente nas áreas mais quentes do planeta – o que faz do Brasil possuidor de uma “megabiodiversidade”. Retentor de uma gama de ecossistemas, biomas, processos ecológicos e, consequente inúmeras paisagens naturais. “Com invejáveis 69,4% de suas florestas primitivas [intactas], o Brasil é um verdadeiro reino das florestas”. 25

Assim, com uma rica biodiversidade, paisagens naturais além do imaginário e com uma população que possui um vasto enredo cultural, o Brasil estabelece todo um conjunto de condições que, quando assistidas no escopo da interação entre a sociedade humana e natureza, faz do país um objeto singular e privilegiado para o historiador ambiental. Um verdadeiro documento a céu aberto. Sobre a ótica de valorização da rica potencialidade dos recursos naturais do Brasil, Drummond assinala:

“O Brasil é, evidentemente, uma das principais fontes potenciais de materiais genéticos brutos e poderá também se converter num centro de pesquisas e tecnologia para a sua transformação e aplicação”. 26

Todavia, os alertas para uma realidade atroz, a de devastação, estão por toda a parte: mais de 90% das unidades de conservação da Amazônia sofreram múltiplas queimadas nos últimos sete anos, segundo pesquisa de Alberto Setzer, do Instituto Nacional de pesquisas Espaciais (Inpe). “Dezenas de unidades de conservação estão pegando fogo todos os dias, e quase nada acontece”. 27 As queimadas e desmatamentos colocam o Brasil entre os cinco maiores emissores de gás carbônico do planeta, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS) de 2008, divulgado pelo IBGE. Somente as queimadas correspondem a 75% de todo CO2 lançado na atmosfera brasileira. 28 Em cinco anos aumentou a incidência de poluição da água nos municípios, de 38,1% em 2002 para 41,7 % em 2008; poluição do ar de 22,0% em 2002 para 22,2% em 2008; assoreamento dos corpos d’água de 52,9% em 2002 para 53,0% em 2008 e, degradação das áreas legalmente protegidas de 20,2% em 2002 para 21,6% em 2008. 29

As problemáticas ambientais brasileira afetam, direta e indiretamente, a qualidade de vida de sua população e, ao mesmo tempo, compõe uma mescla de situações com enorme potencial para a compreensão crítica da sociedade. Assim, as questões de cunho ambiental acabam por constituírem uma oportunidade de análise dos diversos processos sociais do Brasil. O que de fato ocorre na produção historiográfica ambiental brasileira, que acompanha uma tendência latino-americana, é a grande preocupação com os aspectos sociais, diferentemente dos historiadores norte-americanos, que como avalia Guillermo Castro Herrera, gerente de programas da Fundación Ciudad del Saber, do Panamá:

“[...]os Estados Unidos se preocupa mais com a destruição da natureza, mas na América Latina o enfoque maior dos estudos é a destruição da cultura e empobrecimento”. [...] “Na América Latina a visão é mais global, com uma noção mais clara de que fazemos parte da humanidade. Nos EUA e Inglaterra, a perspectiva é bem mais local”. 30

Herrera aponta para duas questões primordiais – Pecados também cometidos por historiadores brasileiros, mas que podem ser perdoados se corrigidos – para a construção de uma história ambiental mais aprimorada em termos de produção científica: a falta de vínculo dos intelectuais com os movimentos ambientalistas, para assistirem de perto a realidade. “se a história ambiental não conversar com o movimento ambiental, não tem com quem conversar”. A outra questão é a falta de diálogo entre as ciências naturais e sociais. “e preciso criar um espaço integrado”, defende Herrera. O que acaba acontecendo é que, mesmo possuindo as condições pré-necessárias – uma gama de ecossistemas, biomas, processos ecológicos e, conseqüentemente, inúmeras paisagens naturais – para o fomento de uma história ambiental crítica e analítica em termos de natureza biofísica, o historiador ambiental de países de língua inglesa acaba por estar mais apito para desvendar a natureza biofísica do que os cientistas sociais em “terras tupiniquins”, que estão muito mais propensos para uma história ambiental em dimensões propriamente sociais. Isso não significa, todavia, que os historiadores brasileiros não produzem uma história ambiental de qualidade.

Drummond aponta para uma falta de “legitimidade” da disciplina entre os historiadores e profissionais das demais ciências sociais:

“Sinto que a comunidade de cientistas sociais e afins precisa estudar melhor e incorporar analiticamente as variáveis biofísicas, superando um receio infundado de sucumbir ao ‘determinismo’ naturalista, trilhando os caminhos abertos por alguns clássicos da nossa disciplina, como Caio Prado Junior, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e Sergio Buarque de Holanda. Esses caminhos ficaram abandonados por muito tempo e precisam ser desbravados ‘a facão’ para dar acesso à ‘fronteira’ ainda inexplorada dos estudos sócio-ambientais.” 31

Concordo com Drummond e com Herrera nos aspectos de suas respectivas considerações e, como outrora já havia elencado, 32 aponto para um tema por eles não mencionado, que seria a aproximação dos receptores – que não podem ser vistos como passivos ao conhecimento alheio – aos problemas, os resultados bem como as soluções, a afim de que possam interagir no processo que depende de todos a fim de uma maior consciência ecológica.

Todavia, mesmo que em até certo ponto falte maturidade, nos últimos dez anos a história ambiental made in Brazil rendeu bons frutos, demonstrando um destacado desenvolvimento. Isso se deve, em grande parte, à qualidade dos trabalhos produzidos e às nossas universidades que possuem um papel ímpar na produção científica do país. Resumindo, embora não esteja consolidada, a história ambiental está em solo fértil e está, certamente, em crescimento. Isso ficou demonstrado no primeiro encontro acadêmico de história ambiental do Brasil, que ocorreu em maio de 2008, em Belo Horizonte, organizado por Regina Horta Duarte, uma lider da disciplina no país e, no IV Simpósio da Sociedade Latino-Americana e Caribenha de História Ambiental (SOLCHA), realizado em maio de 2009 na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Por uma revolução na sensibilidade humana

Tendo eu apresentado a história ambiental – origem, conceito, metodologia, temas e fontes –, bem como, demonstrado como essa disciplina tem no Brasil dado, mesmo que tímidos, passos importantes e fundamentais na produção do conhecimento histórico; aponto agora para história ambiental como uma ferramenta para o exercício da cidadania, rompendo com a dicotomia sociedade/natureza, ligando emocionalmente homem e meio natural, onde a tomada de consciência ecológica esteja ligado de modo essencial à própria ação.

Hoje nós podemos ver o mundo por inteiro, não só porque nossos satélites com suas poderosas lentes são capazes de nos dar imagens da terra em tempo real, mas, porque entramos no século XXI em um contexto dramático e vertiginoso de problemas ambientais. Problemáticas que não são somente da Alemanha, ou do Brasil e/ou da China. E acaba que nenhum país hoje tem uma chave para a solução dos problemas ambientais do mundo. “A solução da Alemanha ou do Brasil não está mais apenas no Brasil ou na Alemanha”, 33 pois, vivemos em uma grande “aldeia humana” que esta interligada, incondicionalmente, ao destino do planeta.

Há, portanto a necessidade de uma consciência ecológica planetária que em tempos de globalização e em meio à velocidade das informações, parece não ser um problema. Essa tomada de valor se dá por uma compreensão racional da importância da natureza para a manutenção da vida, principalmente humana. Estar conscientizado, todavia, não significa estar engajado, ou uma tomada de ação. É necessário, como bem salientou Rubert Sheldrake: “reconhecer a realidade de nossas experiências diretas da natureza na região silvestre, nos campos, nas montanhas, à beira-mar, ou onde quer que tenhamos sentido em conexão com o imenso mundo vivo.” 34 “Nós só lutamos pelo que amamos e só amamos o que conhecemos”, 35 bem destacou Kleber Galvêas, artista plástico.

Aqui a história ambiental far-se-ia a existir, a ter razão: por intermédio da produção do conhecimento histórico, fazer a natureza ser conhecida. Tal disciplina tem a incumbência de aproximar o homem da natureza, de emocioná-lo com a natureza e fazê-lo sentir-se parte dela. Assim, a história ambiental quando capta um sentido de educação ambiental, de consciência ecológica e de tomada de militância, quer trazer a natureza de volta para os braços do homem.

O homem, nos diversos momentos históricos, foi descrito como “homo animal político” (Aristóteles); “animal que ri” (Thomas Willis); “animal que fabrica seus utensílios” (Benjamin Franklin); “animal religioso” (Edmundo Burke); e um “animal que cozinha” (James Boswell, antecipando Lévi-Strauss). 36 A história ambiental pretende um “homo ambientalista” por excelência da aproximação.

A história ambiental quer superar o afastamento entre seres humanos em sociedade e a natureza – que produz a degradação de ambos. Uma boa pesquisa em história ambiental é aquela que rompe com os muros das universidades e fala com os Doutores, os estudantes e os leigos em mesmo tom. É aquela pesquisa que, por intermédio do conhecimento historiográfico, consegue fazer o receptor vivenciar sua relação com o meio natural, tanto em dimensões racionais quanto emocionais. “[...] não é apenas compreender, mas também sentir-se e agir se integrado a esta relação.” 37 Os historiadores ambientais

“[...] devem buscar compreender mais do que ninguém que o mundo não está dividido em preto e branco [conflito dualista]. Há apenas tons de cinza e é a tarefa do historiador ambiental explicar estas sombras e dar sentido a eles”. 38

Se o objetivo da história é o homem, mais precisamente os homens no tempo, 39 afirmo que os homens estão para o tempo assim como estão para o seu meio natural. O que os torna, deste modo, indissociáveis.

Conclusão

A história ambiental, portanto, não pode ser encarada como um mero movimento de historiadores ambientalista no seio da história, um modismo passageiro que amanhã ou depois será esquecido e tão pouco simplesmente como uma história do ambientalismo. É uma denuncia pública? Sim, mas é também um ramo de produção do conhecimento com fundamentais reflexões e embates filosóficos e historiográficos.

Sua real originalidade, não está no nome – história ambiental – está em seu ideário de colocar a sociedade na natureza e no equilíbrio com que busca a interação, a influência mutua entre sociedade e natureza no tempo.

O que está em jogo não é a sobrevivência da história ou um simples esforço para ampliar o campo de narrativa da historiografia, mas sim, a sobrevivência da humanidade e do planeta. Já não é mais contra a natureza que devemos lutar – em outros tempos a natureza era sinônimo de entrave e obstáculo para o progresso sendo, deste modo, considerada inimiga – mas sim a seu favor.

Notas:

1. TRIGUEIRO, André. Mundo sustentável: abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação. São Paulo: Globo, 2005. Pg. 228.

2. LOVELOCK, James. As Idades de Gaia. Rio de Janeiro, Campos, 1991.

3. DRUMMOND, José Augusto. A história ambiental: temas fontes e linhas de pesquisa. Disponível em: http://professores.cds.unb.br/drummond/pub/?. Acesso em 12 setembro de 2009.

4. HUGHES, J. Donald. Ecology and Development as Narrative Themes of World History. Environmental History Review 19:1-16 (Spring 1995) Pan's Travail, London, 1994. Pg. 3.

5. WORSTER, Donald. Ed. The Ends of the Earth: Perspectives on modern environmental history. Cambridge; New York: CambridgeUniversity Press, 1988. Pg. 290-291.

6. BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002. Pg. 17.

7. BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Filipe II. Lisboa: Martins Fontes, 1983.

8. CATÂO, Leandro pena; SANTOS, Tatiane Conceição. História ambiental a partir do patrimônio urbano ambiental e da prática turística. História Ambiental & Turismo, Vol. 4, nº 01, Maio de 2008.

9. THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1500-1800). São Paulo: Companhia das Letras, 1988. Pg. 18.

10. NASH, Roderick. Environmental history. Em Herbert J. Bass, Ed. The state of American history (Chicago, Quadrangle Press, 1970), Pg. 249-260.

11. WHITE, Richard. American environmental history: the development of a new historical field. Pacific Historical Review, 54 (1985), Pg. 297-335.

12. HAYS, Samuel P.Conservation and the gospel of efficiency: the progressive conservation movement, 1890-1920. New York: Atheneum, 1975.

13. Para maiores informações sobre Sociedade Americana de História Ambiental (ASEH), a Sociedade Europeia de História Ambiental (ESEH) visite os respectivos sites: e . Também indico a visita a homepage Environmental History Resourse em ; o site da História Ambiental Latino Americana () e os sites brasileiros da Rede Brasileira de Historia Ambiental e História Ambiental Brasil .

14. Considerada uma das maiores discussões teórica/conceitual sobre a história ambiental, a “A Rouna Table: Environmental History” foi o marco do reconhecimento da disciplina. “A Round Table: Environmental History”, Journal of American History 76.4 (Março 1990), 1087-1147.

15. DRUMMOND, José Augusto. A história ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisas. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Vol. 4 n. 8, 1991, Pg. 179.

16. História das Paisagens. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, Pg. 204.

17. WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro. , Vol. 4, n. 8. Pg. 202.

18. DRUMMOND, José Augusto. Devastação e preservação ambiental no Rio de Janeiro. Niterói: EdUFF,1997. Pg. 23.

19. DRUMMOND, José Augusto. A história ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisas. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Vol. 4 n. 8, 1991, Pg. 181-184.

20. OOSTHOEK, K.J.W. Environmental History - Between Science and Philosophy. Disponível em: http://www.eh-resources.org/philosophy.html. Acesso em 21 de setembro de 2009.

21. WORSTER, Donald. Para fazer História Ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.4, n. 8, 1991, Pg. 206.

22. BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002. Pg. 27.

23. WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro. , Vol. 4, n. 8. Pg. 201.

24. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. História das Paisagens. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 203.

25. MIRANDA, Evaristo Eduardo de. O Reino das florestas. Rede Brasileira de História Ambiental. Disponível em: . Acesso em 23 de setembro de 2009.

26. DRUMMOND, José Augusto. Por que estudar história ambiental do Brasil? – ensaio temático. Varias Histórias, nº 26 Janeiro, 2002, Pg. 28.

27. SETZER, Alberto. Queimadas atingem 90% das reservas na Amazônia-INPE. Estadão de São Paulo. Disponível em: . Acesso em 23 de setembro de 2009.

28. SUCURSAL, Denise Paro. Poluição no ar, na terra e na água. Gazeta do Povo, Disponível em: < id="773054">. Acesso em 23 de setembro de 2009.

29. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais de 90% dos municípios enfrentam problemas ambientais. Perfil dos municípios em 2008; 12 dezembro de 2008. Disponível em: . Acesso em 23 de setembro de 2009.

30. DINIZ, Laura. Viés social marca história ambiental na A.L. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimeto (PNUD). Disponível em < id01="413&lay=">. Acesso em 23 de setembro de 2009.

31. DRUMMOND, José Augusto. Por que estudar história ambiental do Brasil? – ensaio temático. Várias Histórias, nº 26 Janeiro, 2002, Pg. 30.

32. A respeito das minhas considerações, de outrora, sobre história ambiental ver: BARRAQUI, Douglas. Da história ambiental à consciência ecológica. Rede Brasileira de História Ambiental (RBHA). Disponível em:

article&id=208:douglas-barraqui&catid=94:nacionais&Itemid=291>. Acesso em 23 de setembro de 2009.

33. BOFF, Leonardo. Nova era: a civilização planetária. São Paulo: Ática, 1994, Pg. 31.

34. SHELDRAKE, Rubert. O renascimento da natureza. São Paulo: Cultrix, 1993, Pg. 211.

35. GALVÊAS, Homero Bonadiman. A História da Barra do Jucu. Vitória E.S. 2005, Pg. 135.

36. THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação as plantas e aos animais (1500-1800). São Paulo: Companhia das Letras, 1988. Pg. 37.

37. GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995, Pg. 39.

38. OOSTHOEK, K.J.W. Environmental History - Between Science and Philosophy. Disponível em: http://www.eh-resources.org/philosophy.html. Acesso em 26 de setembro de 2009.

39. BLOCH, Marc. Introdução a História. Europa-América, Sintra, 1976, Pg. 89.

Bibliografia:

A Round Table: Environmental History, Journal of American History 76. 4 (Março1990), 1087-1147.

BARRAQUI, Douglas. Da história ambiental à consciência ecológica. Rede Brasileira de História Ambiental (RBHA). Disponível em: . Acesso em 23 de setembro de 2009.

BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002.

BLOCH, Marc. Introdução a História. Europa-América, Sintra, 1976.

BOFF, Leonardo. Nova era: a civilização planetária. São Paulo: Ática, 1994.

BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Filipe II. Lisboa: Martins Fontes, 1983.

CATÃO, Leandro pena; SANTOS, Tatiane Conceição. História ambiental a partir do patrimônio urbano ambiental e da prática turística. História Ambiental & Turismo, Vol. 4, nº 01, Maio de 2008.

DINIZ, Laura. Viés social marca história ambiental na A.L. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Disponível em < id01="413&lay=">. Acesso em 23 de setembro de 2009.

DRUMMOND, José Augusto. A história ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisas. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Vol. 4 n. 8, 1991, Pg. 177-197

DRUMMOND, José Augusto. Devastação e preservação ambiental no Rio de Janeiro. Niterói: EdUFF,1997.

DRUMMOND, José Augusto. Por que estudar história ambiental do Brasil? – ensaio temático. Várias Histórias, nº 26 Janeiro, 2002, Pg. 13-32.

Environmental History Resourse. Disponível em: . Acesso em 26 de setembro de 2009.

GALVÊAS, Homero Bonadiman. A História da Barra do Jucu. Vitória E.S. 2005.

GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.

HAYS, Samuel P. Conservation and the gospel of efficiency: the progressive conservation movement, 1890-1920. New York: Atheneum, 1975.

História Ambiental Brasil. Disponível em: . Acesso em 26 de setembro de 2009.

HUGHES, J. Donald. Ecology and Development as Narrative Themes of World History. Environmental History Review 19:1-16 (Spring 1995) Pan's Travail, London, 1994.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais de 90% dos municípios enfrentam problemas ambientais. Perfil dos municípios em 2008; 12 dezembro de 2008. Disponível em: . Acesso em 23 de setembro de 2009.

LOVELOCK, James. As Idades de Gaia. Rio de Janeiro, Campos, 1991.

MIRANDA, Evaristo Eduardo de. O Reino das florestas. Rede Brasileira de História Ambiental. Disponível em: . Acesso em 23 de setembro de 2009.

NASH, Roderick. Environmental history. Em Herbert J. Bass, Ed. The state of American history (Chicago, Quadrangle Press, 1970), Pg. 249-260.

OOSTHOEK, K.J.W. Environmental History - Between Science and Philosophy. Disponível em: http://www.eh-resources.org/philosophy.html. Acesso em 21 de setembro de 2009.

Rede Brasileira de História Ambiental. Disponível em: . Acesso em 26 de setembro de 2009.

SETZER, Alberto. Queimadas atingem 90% das reservas na Amazônia - INPE. Estadão de São Paulo. Disponível em: . Acesso em 23 de setembro de 2009.

SHELDRAKE, Rubert. O renascimento da natureza. São Paulo: Cultrix, 1993.

SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. História das Paisagens. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

Sociedade Americana de História Ambiental (ASEH). Disponível em . Acesso em 26 de setembro de 2009.

Sociedade Europeia de história Ambiental (ESEH). Disponível em: . Acesso em 26 de setembro de 2009.

SUCURSAL, Denise Paro. Poluição no ar, na terra e na água. Gazeta do Povo, Disponível em: < id="773054">. Acesso em 23 de setembro de 2009.

THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1500-1800). São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

TRIGUEIRO, André. Mundo sustentável: abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação. São Paulo: Globo, 2005.

WHITE, Richard. American environmental history: the development of a new historical field. Pacific Historical Review, 54 (1985), Pg. 297-335.

WORSTER, Donald. Para fazer História Ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.4, n. 8, 1991, Pg. 198-215.

WORSTER, Donald. Ed. The Ends of the Earth: Perspectives on modern environmental history. Cambridge; New York: Cambridge University Press, 1988.